quinta-feira, 28 de maio de 2009

ÚLTIMO ANDAR À ÚLTIMA CAMINHADA

Ele acordou nessa data tão importante com o barulho da pia pingando. A pia pingava e, no seu copo, apenas água. Era mais um engano.
Tão errante quanto a escuridão e o sol, ele tropeçava e esbarrava em tudo. Era um desastre. Dia doze de qualquer mês que, pra ele, não passava de uma sexta-feira treze. Mas seu pesadelo foi durante o dia.
Encheu o copo com os pingos da pia. A pia pinga. Pinga a pia. Na pia, pinga. Pinga à pia. E foi assim durante todo o dia.
Que jeito mais astuto de se consentir. Que coisa cruel pra se fingir.
E quem esvaziaria suas mãos? Quem o seu caminho abriria - se alguém pra colocar à frente de tudo ele não tinha?
Ele ficava ali, parado, esperando o vento entrar por entre as janelas fechadas da sua sala mofada.
O aquário verde de limo representava bem sua vida azeda - e o copo - na mão esquerda. 
A tevê fora do ar tornava sua mente devagar. E então começava a divagar. Vamos, deixem o rapaz voar. Esqueçam as antenas, os urubus e as rádios piratas. Ele quer uma ponte aérea. Ele não quer mais nada. 
Apenas outra cama pra deitar. Deixem que ele caia do décimo segundo andar. E então, no décimo segundo, voltar a descansar.