sábado, 8 de fevereiro de 2014

ÚLTIMA BONECA


Era vestidinho rendado; boné de lado; melissa e tênis que pisca.
Ficar descalços na areia; chamar de bobo, mostrar a língua e falar que é feia.
Bonecas de um lado, bola do outro, sorriso riscado e banco de areia.
Sentar na calçada, rodar o chinelo, manter a distância e evitar a faísca.

Em mim tu não encostas. Pra ela arrepio; pra ele, cócegas.
Era guerra. Era santa. Eram lindas, eram tantas.
Eram tudo o que elas não queriam querer.
Eles, tudo evitavam perder.

Fazer fila; apontar; escolher; gargalhar.
Na caixa de brinquedos a inocência deixar.
Lhe dar o caderno e deixá-la escrever.
Não há nessa rua como não se perder.

Não quer mais leite no copo. Trocou por café na caneca.
Agora é sair, contar, inventar, rir. Os outros, inveja sentir.
Ciúme deu lugar à vergonha. O rosa ao vermelho. E a vontade de mentir.

Sem sorriso; sem espelho; sem renda e sem festa.
Se trancar no banheiro, sem heróis nem cavalos que falam inglês.
Ele saiu, chutar bola, foi brincar.
Ela ficou, segurar choro, sua última boneca irá quebrar.