
Ela olhava pela janela do carro, via os prédios altos e pensava que um dia seria assim.
Eu observava a sarjeta e descobria conforto. Percebia abrigo. Não sentia a violência. Assim como ela, quando via o próprio rosto nas nuvens.
Movia-se como doce, em meus sonhos. Tinha o olhar mais calmo e inexpressivo que nunca tinha visto. Me dava o primeiro gosto. O céu não podia esperar tanto. E não esperou...
Tão depressa quanto o que aconteceu, desabava em nossas cabeças, nos trazia dúvidas, incertezas. A chuva tentava separar o que o sol soldou.
Oh, céus, por que tanto tememos à felicidade?
É como se a lei nos obrigasse a escutar o que os vultos e encostos têm a dizer. Como se nos forçassem a obedecer.
Eu olhava pela janela do carro, via os prédios altos e pensava que aquilo tudo, como todo grande império, um dia ia cair.
Observava a sarjeta e notava a miséria da qual nunca iria sair.
Ela recitava poesias de como o amor é a salvação do mundo. Mas seus textos não ditavam o ser humano e seus temores. Não falava sobre a inveja. Seus versos não passavam de auto-piedade, guardados dentro daquele edifício, que desmoronava aos poucos.