terça-feira, 30 de setembro de 2008

À PONTE

Já tinha deixado tudo isso em outros papéis, e o vento insiste em soprá-los de volta. Eu colo todos no meu muro, virado para trás. E o reboco insiste em derrubar.
Agora olho ao meu redor, paredes dizem que ainda vou morrer aqui. Me escondo embaixo da cama que fundamos e afundamos. Em cada gota de suor, suas palavras doces ainda me fazem rir.
Eu até amarrei um barbante na saída, pra não me perder no seu caminho. Mas tem sempre uma armadilha, tem sempre um cão de guarda. Tem sempre um motivo pra se trancar numa gaiola. E aqui de cima, nada importa mais se estou com você, se estou em você. E você está em mim. Só não me deixe cair.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

FALÊNCIA

As cores têm ficado saturadas, nessas últimas noites. Últimas com contagem regressiva. Tudo preparado para a implosão.
Eu só queria um cobertor pra me proteger das fagulhas, das agulhas. Eu sinto quando estamos próximos, os dedos do pé congelam, as veias atrapalham meu caminho, a sombra segue cada passo. E a cada passo meu pé dói mais.
Medo de te convidar pro meu refúgio, de tentar te proteger. Acabar por derreter.
Medo de pensar que esses gemidos foram em vão. Repetidos sonhos, vão.
A janela está aberta, para qualquer um assistir o que quer que aconteça. Melhor que não aconteça nada. Eu nunca dei opiniões, nunca quis me intrometer. Achava melhor sentar numa árvore e rabiscar papéis imaturos, escrevendo contos-de-fadas. Agora prefiro os romances. Mas chove tanto por aqui, que minhas escritas foram apagadas.
Vejo no espelho alguém cansado de ser empurrado pro fundo desse poço, cada vez mais fundo, mais imundo.
Agora cercam minha torre com explosivos. Quero meu edredom, quero proteção. Queria poder sair. No fim, me aquece o fato de você não estar aqui, pra me ver cair.