sexta-feira, 2 de março de 2012

ESSAS MULHERES

À janela, nos primeiros raios de um sol de sábado, dou os primeiros tragos num cigarro de sexta e marco o batente com cotovelos ralados. Aperto os olhos enquanto fumaças me cegam e enxergo melhor aquela que passa de vestido em sua bicicleta; com a pele brilhando do suor da manhã e do sal do mar. Temperada para amar. Apaixonada pelo vento e apaixonando os que a estão vendo.
A morena do outro lado da rua, com sua sacola de compras e sua timidez quase nua. A inocência de frutas frescas da feira, de olhares indecentes e passadas indiferentes. Pode matar o homem distraído que corre na calçada com seus fones de ouvidos. Causar um acidente; uma tragédia; um engavetamento; um casamento. Causar dor e sofrimento.
Meu cigarro chegava ao filtro quando passava a outra, com cabelos vermelhos e boca pintada. Brilhava mais que o sol e tingia de neon a minha casa.
Apago no batente e jogo a bimba na calçada. Ao olhar pro interior, percebo que, delas, a mais bela acaba de levantar da minha cama. Com o cabelo bagunçado e um sorriso sem graça, põe seu vestido, pega sua bicicleta e será a próxima a passar por trás da minha fumaça.