terça-feira, 17 de julho de 2007

VIGÉSIMO ANDAR

Você recita poesias. Eu jogo pedras por aí. Escreva logo minha sentença, antes que eu pense em fugir.

Ela olhava pela janela do carro, via os prédios altos e pensava que um dia seria assim.

Eu observava a sarjeta e descobria conforto. Percebia abrigo. Não sentia a violência. Assim como ela, quando via o próprio rosto nas nuvens.
Movia-se como doce, em meus sonhos. Tinha o olhar mais calmo e inexpressivo que nunca tinha visto. Me dava o primeiro gosto. O céu não podia esperar tanto. E não esperou...
Tão depressa quanto o que aconteceu, desabava em nossas cabeças, nos trazia dúvidas, incertezas. A chuva tentava separar o que o sol soldou.

Oh, céus, por que tanto tememos à felicidade?

É como se a lei nos obrigasse a escutar o que os vultos e encostos têm a dizer. Como se nos forçassem a obedecer.

Eu olhava pela janela do carro, via os prédios altos e pensava que aquilo tudo, como todo grande império, um dia ia cair.

Observava a sarjeta e notava a miséria da qual nunca iria sair.

Ela recitava poesias de como o amor é a salvação do mundo. Mas seus textos não ditavam o ser humano e seus temores. Não falava sobre a inveja. Seus versos não passavam de auto-piedade, guardados dentro daquele edifício, que desmoronava aos poucos.