quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

CADERNOS ÓBVIOS DE ÓBITO

Eu tenho caminhado sobre folhas borradas. Pulado todas as linhas apagadas. Dobrei todos os pontos e vírgulas. Mas não sabia onde tinha deixado de pisar. Onde deixei de pisar?
Deixei de pisar em você!
Sua voz, carregada nos sonhos, era leve em todos os pesadelos. Deixei de dormir durante meses - estava mais preocupado em te acordar. Estava mais preocupado em me apagar.
Hoje sou um monstro - e você é criadora. Você alimentou. Deu abrigo. Confortou. Tirou-me o teto e fez chover. Seu sangue perfeito escorrer. Quero ver meu lençol pintado de vermelho e branco.
E o atrito queima minhas solas enquanto você anda sobre rodas. É isso que furou. Logo criou asas e voou ... E desabou. Mas te pulei. Tiraria a mão do bolso pra enfiar na sua cara. Mas não. Outra oportunidade se esgotou.
Sei que enquanto os frutos caem em minha cabeça, alguém te afunda, alguém te afoga. E esse mesmo alguém vai te empurrar nesse buraco.
E aqui, quando nos encontrarmos, me lembrarei onde deixei de pisar.