
Era uma bela noite para tingir alguém. Tirar-lhe daquele velho tom pastel que o acompanhava em todas as investidas e em todos os descaminhos. Estava descontrolada, não posso negar. Mas aquilo tinha de ser feito. E tinha de ser eu. Ele não podia ser mais rápido.
Me incomodava o fato daquele pobre coração bater. De correr algo quente dentro daquele corpo.
Então, montei todo o cenário para que a minha noite fosse perfeita, trouxe-o do jeito que queria à minha teia. Era preciso de poesia para enfiar amor naquele peito e estourá-lo por dentro. A morte dele, por si só, não seria poética o bastante para a minha licença.
E assim foi. Levei-o de volta para o mundo de onde o tirei. Me deixava feliz o fato de que, com certeza, ele ficaria feliz em seu habitat.
Ele, então, parou de procurar o que queria. Não sei se impressão minha ou fato, mas percebi um esboço de sorriso naquele rosto frio, daquele homem fraco. Deitou-se na poça que ele mesmo criou. Encostou-se. Descansou.