sábado, 5 de maio de 2007

ENJÔO

"Às vezes me sinto tão cheio. Quero te dizer que me sinto bem...". Todas as cervejas acabaram, junto com a esperança. Aos poucos, se sufoca com seu último cigarro, que saboreia devagar e aproveita cada milésimo de prazer que a fumaça lhe proporciona.
No bar, parece que a vida tem muito mais sentido. Que cada gota de álcool torna seus problemas mais suaves. Seus desabafos mais audíveis. Ha...
Mas agora, que não há mais cerveja, a realidade vem à tona. Ela realmente o deixou, sem motivos, simplesmente o largou. Todo ser humano tem seus direitos reservados. O direito de enjoar de alguém, na hora que quiser, do jeito que entender.
Depois do sexo ela abriu uma vodca, encheu um copo-de-requeijão e se destruiu. No segundo copo, abriu a boca. Vomitou em cima dele tudo que estava entalado. Todas as verdades omitidas, todas as mentiras fantasiadas, todas as tragédias digeridas.
Na verdade, tudo isso se resumiu numa simples frase: "Enjoei. Você me enjoou".
Sem a cerveja, essas palavras martelam em sua cabeça. Machucam cada vez mais. Agora ele anda em direção ao mar, vai fundo, vai longe. E deixa ser levado pelo destino - ou pelas ondas.
Amanhã, quando ela acordar - com ressaca - vai descobrir que não era esse enjôo que sentia. Que seu enjôo era vício. E que seu vício a transformou em assassina.

4 comentários:

Anônimo disse...

que seu enjôo era vício... e o direito de enjoar... muito bom nego... você sabe que admiro muito seus textos... te amo jacaré...
bjos thatila

Rafael R. V. Silva. disse...

Tive que ler umas 4 vezes, não por problemas no texto mas pelo força que ele carrega.

Abração.

Anônimo disse...

Oi, Wagner. Legal o texto. Parabéns. Valeu pela visita ao Contos do Intervalos, pelo comentário e pela blasfêmia. Você é de Santos? Eu também.
Abraço,
Marcelo Nogueira.

Anônimo disse...

Não, eu estudei propaganda na FAAP, e trabalho em SP desde aquela época. Meus pais moram em Santos, no Canal 2. Tô sempre por lá.