segunda-feira, 30 de junho de 2014

FIM

Naquela noite ele havia dormido no lugar dela na cama. O lado que havia sido democraticamente separado só para ela. De manhã preparou seu café, como sempre faz, e esquentou o leite dela, mesmo sendo alérgico a lactose. Sentou-se só.
            Nesse dia ele não saiu para procurar emprego. Não encheu o saco de ninguém e ninguém o incomodou também. Ele era fraco. Sempre foi. E ela o conseguia empurrar. Mas, nesse dia, ele precisava de alguém que o arrastasse. Se arrastou pro bar.
            Foram tragos e mais tragos que nem sei contar. Não lhe trouxeram nada, é claro, mas a cada gole vinha a vontade de cair no mar. Pediu só mais sete doses - uma para cada dia da semana que seguia. Pulou as sete ondas e caiu. Não sei bem se o barulho era do vento, das ondas ou de choro. Mas lembro que o vi levantar antes de cair de novo e se arrastar para a areia. Esse não foi seu fim. O fim já foi. Esse fim é passado e será presente.

            Estava tarde, ele precisava voltar, precisava parar de se arrastar no chão. Nessa noite, ele ia dormir no lado dela do colchão.