quinta-feira, 28 de maio de 2009

ÚLTIMO ANDAR À ÚLTIMA CAMINHADA

Ele acordou nessa data tão importante com o barulho da pia pingando. A pia pingava e, no seu copo, apenas água. Era mais um engano.
Tão errante quanto a escuridão e o sol, ele tropeçava e esbarrava em tudo. Era um desastre. Dia doze de qualquer mês que, pra ele, não passava de uma sexta-feira treze. Mas seu pesadelo foi durante o dia.
Encheu o copo com os pingos da pia. A pia pinga. Pinga a pia. Na pia, pinga. Pinga à pia. E foi assim durante todo o dia.
Que jeito mais astuto de se consentir. Que coisa cruel pra se fingir.
E quem esvaziaria suas mãos? Quem o seu caminho abriria - se alguém pra colocar à frente de tudo ele não tinha?
Ele ficava ali, parado, esperando o vento entrar por entre as janelas fechadas da sua sala mofada.
O aquário verde de limo representava bem sua vida azeda - e o copo - na mão esquerda. 
A tevê fora do ar tornava sua mente devagar. E então começava a divagar. Vamos, deixem o rapaz voar. Esqueçam as antenas, os urubus e as rádios piratas. Ele quer uma ponte aérea. Ele não quer mais nada. 
Apenas outra cama pra deitar. Deixem que ele caia do décimo segundo andar. E então, no décimo segundo, voltar a descansar.

6 comentários:

Jéssica B. disse...

gostei muito!

Durden Poulain disse...

Olá, lhe achei por um amigo dos amigos, gostei dos contos.

Vamos trocar figurinhas.

Unknown disse...

fazia um tempo que não entrava aqui.
"O aquário verde de limo representava bem sua vida azeda - e o copo - na mão [direita] ... parece que se preenche sozinho. "

Sir Will Br disse...

Gostei muito do seu texto, bem pensado, rimas boas, sem tédio.
e terminou tambem no hora certa para não se tornar cansativo.
parabens

Anônimo disse...

Viado.
Você sabe quem é.
Escreva sempre, cansei de ler os mesmo textos 5 vezes e sempre sentir alguma coisa. E nao quero comentar sobre esse aqui.

Ivna Alba disse...

Os sons absorvem tudo! Esse texto seu tem muita vida, meu caro! Tem muito som e muita música. Se é uma última caminhada mesmo, apesar de ser derradeira, a música que ouço ao ler não é um réquiem. É muito suave!!!